Por Cecília N. de Oliveira
O Novo Comentário da Bíblia (1997), organizado por F. Davidson, afirma que o livro dos provérbios da Bíblia Sagrada é um livro de disciplina: “toca em cada departamento da vida e demonstra que [a sabedoria] é o alvo do interesse de Deus. (...) E a sabedoria precisa dominar a vida inteira; não apenas a devoção de um homem, mas também sua atitude para com sua esposa, seus filhos, seu trabalho, seus métodos de negócio – e até suas maneiras à mesa” (p. 629).
De fato, não há um assunto que seja de interesse do homem em suas atribuições espirituais, físicas, morais e sociais, que não seja tratado pelo livro de provérbios. Sabendo disso, buscamos nele as diretrizes de Deus para a conduta cristã e mais especificamente, dada a presente proposta, para a mulher cristã. Quando pensamos em vida cristã e no conceito de mulher, somos facilmente remetidos aos textos que descrevem a mulher virtuosa (Pv 31) e a mulher sábia (Pv 14). Todavia, não raro nos esquecemos que a mesma Palavra que orienta como as mulheres devem proceder também indica o que devem diligentemente evitar e a obediência de um princípio está intimamente ligada à observância do outro.
Por quatro vezes, no livro de Provérbios, o sábio Salomão, inspirado por Deus, referiu-se à vida de alguém com uma mulher rixosa, como sendo insuportável. Em Pv 21:9 e Pv 25:24, é repetido e enfatizado que: “melhor é morar no canto de um eirado do que junto com uma mulher rixosa na mesma casa”. Já em Pv 21:19 diz: “melhor é morar numa terra deserta do que com a mulher rixosa e iracunda” e em Pv 27:15 e 16 finaliza: “o gotejar contínuo no dia de grande chuva, e a mulher rixosa, são semelhantes, contê-la seria conter o vento, seria pegar o óleo na mão”.
Para entender o alerta de Salomão e compreender a profundidade desses versículos, precisamos analisar cada uma dessas metáforas.
O canto do eirado:
De modo geral, eirado é um terraço e especificamente pode conotar um depósito de legumes ou de cana-de-açúcar; ou ainda pode ser o lugar onde se junta o sal, ao lado das marinhas. Em todas essas definições vislumbramos um lugar marginalizado, provavelmente pouco higiênico e onde se amontoam coisas de forma desorganizada. Notemos ainda que o escritor diz ser melhor morar no canto de tal lugar do que com uma mulher rixosa. Se o eirado completo já não seria, de forma alguma, um lugar apropriado para um rei habitar, que dirá o canto desse espaço! Concluímos que é preferível viver em aperto, sem higiene e sem conforto a dividir uma casa ampla e aconchegante com uma mulher dessa estirpe.
Uma terra deserta:
Geograficamente falando, o deserto nem de longe é um lugar habitável para o ser humano nem para a maioria dos animais. Seu clima é péssimo, há pouca chuva, o solo não é fértil, pois formado por areia e rochas em sua maior parte. Durante o dia o sol é escaldante e suas noites são gélidas; sem mencionar as feras que atacam durante a noite e das serpentes venenosas que se escondem nas fendas das rochas e na areia.
Outro aspecto dessa imagem seria a solidão. Como a vida é especialmente complicada nessas regiões, os moradores são escassos. Assim, viver em uma terra deserta seria viver sem o auxílio, a companhia, o conforto nem o zelo de quaisquer outras pessoas; seria viver ensimesmado, recluso e ter que lidar com a idéia de abandono que, não raro, conduz muitos a depressões profundas e até ao suicídio.
O deserto ainda é metáfora de forte provação. Costumamos nos referir às situações difíceis por que passamos na vida como desertos, dado que nos sentimos sozinhos, necessitados, a mercê de perigos noturnos e sedentos na maior parte do tempo de tais provas. Mais uma vez o sábio afirma que é preferível viver assim, sujeito a todos esses perigos e desconfortos, do que com a mulher rixosa.
O gotejar contínuo em dia de grande chuva:
Quando pensamos em goteiras, o senso comum nos remete à idéia do desconforto de não conseguir dormir facilmente incomodados com o barulho das gotas... No entanto, essa imagem diz além. Primeiro não se trata de poucas gotinhas, mas de um gotejar contínuo e de uma grande chuva, o que em si esgotaria a paciência de muita gente.
Além disso, pesquisando sobre histórias reais de guerras, pudemos descobrir que alguns prisioneiros eram submetidos à tortura da gota, que seria pô-los debaixo de uma goteira, machucados, famintos, exaustos e muitas vezes despedidos a fim de fazê-los confessar seus crimes. Isso pode parecer simplório à primeira vista, mas se observarmos os orifícios que pequenas gotas de água conseguem abrir no concreto quando despencam continuamente, entenderemos o dono que isso pode causar no ser humano. Nem dormir é possível neste estado.
Como Salomão era filho de um homem valente, que enfrentou inúmeras guerras (Davi), ele certamente considerou esse contexto quando comparou gotejar contínuo com uma mulher rixosa. Que declaração de peso! Diz ele que é tão impossível contê-la quanto o é conter o vento ou segurar o óleo pela mão. Ela é alguém indomável, constante em irar-se e escorregadia. Quão terrível é a vida ao lado de uma pessoa assim!
Mas, afinal, o que é ser uma mulher rixosa?
No dicionário Aurélio, o termo está associado a contenda, briga, revolta, discórdia, desavença, disputa e amargura...
Quantos casamentos têm sido desfeitos, quantos filhos têm cometido suicídio, quantos conflitos têm ocorrido em locais de trabalho, quantas desavenças nas vizinhanças, quantas revoltas familiares e quanta amargura tem sido espalhada em muitos corações por causa de mulheres que se tornaram rixosas!
A mulher rixosa é vergonha para seu marido porque suas atitudes tornam pública sua insubmissão. Suas palavras ferem a alma e o deixam tão perturbado quanto um prisioneiro de guerra. Muitos homens esgotam suas forças no trabalho e seu tempo nos encontros com os “amigos” por não quererem voltar para casa e se depararem com as lamúrias dessa mulher.
Muitos filhos têm crescido em lares desequilibrados, nos quais os pais conservam-se distantes da vida comum do lar e as mães descarregam toda a sua frustração neles. Estudos comprovam que até os dois anos de idade, aproximadamente, a menina tende a adquirir o comportamento psicológico e emocional da mãe e que depois dessa idade, os laços ficam tão enraizados que apensas com muito trabalho direcionado e sobretudo (acrescentamos) com a ação de Deus isso pode ser revertido. Isso implica dizer que uma mãe rixosa está formando uma filha rixosa que, se continuar assim, atormentará muitas outras vidas.
Os filhos homens não estão isentos de danos semelhantes. Geralmente, esse tipo de mulher se desfaz da autoridade do marido, o que pode perturbar referencial masculino de cabeça e líder de uma família, levando o filho homem a temer o matrimônio ou a desenvolver outros traumas como depressões.
Não faltam exemplos nos mais diversos segmentos da vida em sociedade para confirmarmos as palavras do livro sagrado que dizem ser preferível viver no canto de um eirado ou em terra deserta do que dividir uma casa ampla com uma mulher rixosa.
A mulher rixosa é aquela que pensa estar sempre com a razão e mesmo quando sabe que não está, não mede esforços para esconder suas responsabilidades culpando os outros. Ela nunca está pronta para ouvir, mas é precipitada no falar e no se irar. Para ela todo dia é dia de contender e isso não está necessariamente associado ao que os outros lhe tenham feito. Ela briga porque sente prazer nisso.
Essa é a condição natural do pecador, mas é uma lástima verificar que no meio do povo de Deus há muitos exemplos de mulheres com esse perfil... A despeito de toda exortação que a Bíblia faz sobre mansidão e domínio próprio, essas mulheres têm envergonhado o Evangelho e o nome de cristã em seus lares, muitas vezes diante de maridos e/ ou filhos descrentes; em seus trabalhos e em outros segmentos sociais, com exceção da igreja, onde muitas vezes disfarçam uma simpatia pelos irmãos e pelos visitantes.
Cientes de todos os danos que, por implicação, a Bíblia aponta que uma mulher rixosa pode causar, empenhemo-nos com confiança no Senhor em vigiar e orar a fim de não sermos surpreendidas nessa falta. Antes, pelo contrário, que venhamos buscar nas escrituras sagradas, o exemplo a seguir.
Meditemos em: Pv 11:6; Pv 11:22; Pv 12:4; Pv 14:1; Pv 14:29; Pv 31:10 e Pv 31:30.
Que seja a essas mulheres que nos assemelhemos, a fim de que o nome do nosso Bendito Deus seja glorificado onde quer que estejamos.
Graça e paz.
Maranata!